GERENTE DE FÁBRICA EXPLICA OS MOTIVOS QUE LEVARAM A DIREÇÃO A FECHAR UNIDADE DE MACHADO
A segunda semana de dezembro não começou com notícias nada boas para a população machadense. Além dos diversos casos policiais, outra notícia “desagradável” que acabou pegando a população de surpresa foi o encerramento das atividades da fábrica de calçados Ferracini no município. Com a decisão, a empresa acabou demitindo 345 funcionários. O fato virou o principal assunto comentado na cidade e gerou revolta em muita gente. Devido a isso, a Imprensa machadense se mobilizou em torno do caso e publicou as informações até então referentes ao caso. Complementando o que já havia sido dito, na manhã desta quarta-feira (11), o repórter da Rádio Estação Cultura FM, Júlio César Pereira, conseguiu uma entrevista exclusiva com o diretor da empresa, Walson de Oliveira, que explicou os reais motivos do encerramento das atividades da fábrica em Machado. O conteúdo da conversa foi exibido no programa Estação Notícias. E você poderá acompanhá-lo na íntegra aqui no site da Gazeta. Confira:
Júlio César: Estou com o senhor Walson de Oliveira, gerente industrial da Ferracini, que vai falar um pouco sobre o comunicado oficial de demissão dos funcionários da empresa. Walson, quantos funcionários estão sendo dispensados da empresa?
Walson: Bom dia. É um prazer recebê-los aqui, apesar da situação, mas sempre é bom ter a informação correta e precisa para evitar divulgação de fakes ou pessoas desinformadas. A empresa tomou essa decisão e não foi de um dia para outro. Foi uma decisão pensada e estudada, vendo todas as alternativas. Então, é um processo que vem se desencadeando ao longo do tempo e que culminou, infelizmente, com o encerramento da planta nossa em Machado. Estamos aqui com 345 funcionários, incluindo aqueles que estão de licença, afastados e ativos, esses últimos em torno de 335. Infelizmente, ontem, tivemos que dar essa triste notícia a todos eles.
JC: A partir do momento que foi tomada essa decisão, veio uma equipe de Franca para conversar com os funcionários?
Walson: Essas decisões são muito melindrosas, principalmente porque está chegando o final do ano, com o compromisso de entregarmos os produtos aos nossos clientes no período de Natal. Então, é uma coisa que não pode ser divulgada, tem que ser mantida em sigilo, infelizmente. E, na realidade, somente eu sabia disso na fábrica em Machado. A coisa é tão confidencial que nem a minha esposa sabia. Só ficou sabendo no dia, pois se vaza uma informação dessa fica difícil controlar depois a produção, a qualidade e o ânimo do pessoal. Isso tem que ser mantido em sigilo até o último momento. É a decisão tomada pela empresa, pensada e estudada, não foi algo assim de uma vez. O pessoal de Franca veio nos ajudar nesse processo final.
JC: Quanto tempo a empresa ficou na cidade de Machado?
Walson: Foram estabelecidos, em Machado, 15 anos e dois meses. Começou em em barracão pequeno, lá perto do Parque de Exposições, no final de 2004, e veio ocupar esse prédio aqui, que, na época, era da Cambuci, empresa que estava estabelecida em Machado.
JC: Na Cambuci, você chegou a fazer parte da diretoria na época, do quadro de funcionários. Então, para você, deve ter sido mais difícil esta decisão. Inclusive, ao chegar aqui para a entrevista, presenciei vários funcionários saindo chorando, o abraçando… Qual é a sensação de passar por esse momento?
Walson: É uma situação inusitada e ninguém gosta de passar por isso. Eu até comento, às vezes, com os amigos e, infelizmente, vivemos em um regime capitalista, e essas coisas existem no regime capitalista, no qual as empresas têm que ter lucros, metas e planos estratégicos. Funciona dessa maneira. E gosta de fechar uma empresa. Eu trouxe a Cambuci, no ano 1994, começamos a trabalhar num prédio. Depois, o prefeito José Carlos Vilela cedeu o prédio aqui para a Cambuci, que ficou instalada nele por sete ou oito anos. Quando a Cambuci saiu daqui, eu não estava mais na empresa. Fiquei na Cambuci até 1996 somente. E a Cambuci fechou as portas em 2002 ou 2003. Como não estava participando da diretoria, não participei do fechamento. Me vi privilegiado em não passar por uma situação triste. Mas, infelizmente, aqui na Ferracini participamos desse processo, e foi realmente algo muito ruim para as pessoas que temos um carinho enorme, que são os nossos funcionários. Famílias inteiras trabalhavam aqui dentro, e a dificuldade na cidade de Machado na empregabilidade é grande. Pedimos a Deus que o ano que vem seja muito melhor e que todos consigam se recolocarem.
JC: Walson, gostaria agradecê-lo por ter recebido o Estação Notícias aqui na empresa Ferracini e abrir espaço para as suas considerações finais.
Walson: Quero agradecer a todos os colaboradores, distintamente de cargo que tinha na empresa, pois, mais que colaboradores, todos se tornaram amigos. Fiquei 14 anos e cinco meses gerenciando esta fábrica, e acabamos estabelecendo um vínculo. Além do vínculo profissional, tem o vínculo de amizade. Percebi, pelas redes sociais, o pessoal manifestando, fazendo agradecimentos à empresa e à minha pessoa pelo aprendizado que tiveram aqui, pelo companheirismo. E posso dizer para você também: esse tempo que fiquei aqui, afirmo que a Ferracini é uma empresa sólida, que sempre honra com seus compromissos e trata os funcionários muito bem, como vimos nas manifestações de carinho e agradecimento à Ferracini. Quero agradecer, mais uma vez, a colaboração daqueles que participaram desse período de quase 15 anos de empresa. A todos, os meus sinceros agradecimentos.