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POLÍCIA

ALUNAS DO IFSULDEMINAS SÃO ACUSADAS DE COMETEREM RACISMO CONTRA COLEGA E FAZEREM APOLOGIA AO NAZISMO

Um caso de racismo e apologia ao nazismo cometido por duas alunas contra uma colega foi denunciado à Reitoria do IFSuldeMinas (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas) – Campus Machado no último dia 25 (quinta-feira). O fato aconteceu em uma sala de aula do curso de Técnico em Agropecuária, durante o intervalo entre os horários letivos. Uma das acusadas se defendeu alegando que também foi injuriada racialmente. A outra não se pronunciou. Ambas foram suspensas por três dias da instituição. Uma manifestação foi feita por diversos estudantes no decorrer desta semana e a Polícia Militar teve que ser acionada para acalmar os ânimos. A diretoria da entidade promoveu algumas ações para tentar conscientizar os educandos sobre o ocorrido e, ao mesmo tempo, instrui-los para que situações parecidas não voltem a acontecer.

Segundo informações obtidas pela reportagem da Gazeta, uma aluna branca envolveu o braço de uma colega negra com pó de giz branco e disse que aquilo era pra ela não sofrer mais racismo, pois a mesma era constantemente vítima de preconceito. “Naquela data, durante o intervalo, fui para o pátio jogar truco com alguns colegas, mas senti um incômodo e voltei para dentro da sala. Quando retornei, sentei com um amigo para ver vídeos no celular. Naquele momento, duas colegas estavam desenhando no quadro, até que uma se aproximou de mim, perguntando se eu estava bem. Enquanto respondia que sim, a menina foi passando a mão dela na minha. De repente, ela deu um passo para trás e começou a rir. Então, notei que a minha mão estava suja de giz branco. Perguntei para ela se tinha ido até lá só para me sujar de giz e recebi a resposta que aquilo para evitar que eu sofresse racismo. Respirei fundo e um amigo que estava comigo disse para eu ‘voar’ nela. Daí, a menina falou assim: ‘vamos cinco minutos de lutinha?’. É respondi que não seria necessário, pois, se desse um murro, a desmontaria. Logo em seguida, falei que ia na Coordenação. Ela achou que eu estava brincando. Daí, um colega chegou e contamos o que tinha acontecido. Ele foi tirar satisfação com a menina e também sofreu injúria racial, já que foi chamado de amarelo. Nervoso, o meu amigo revidou e perguntou à agressora como era comer jacaré no café da manhã. Nisso, ela atrelou a fala à minha pessoa”.

Ainda conforme a vítima, após denunciar o caso à Coordenadoria, algumas ações foram tomadas e ela passou a sofrer retaliações. “Depois que a aula acabou fomos almoçar. Após a refeição, colegas me recomendaram ir à Coordenação e delatar o que tinha acontecido. Fui até lá e, num primeiro momento, não deram muito atenção. No período da tarde foram me buscar na sala de aula, pedindo para ir lá relatar tudo que tinha acontecido. Descrevi o acontecido em um papel. Pra mim, o assunto tinha morrido ali. No dia 26 (sexta-feira), a agressora perguntou se podia conversar comigo. Falei que sim. Durante o diálogo, ouvi o lado dela e ela escutou o meu. Ela disse que fez uma brincadeira, achando que já tinha liberdade comigo, mas expliquei que não existia isso e que aquilo me machucou muito, pois relembrou uma série de acontecimentos já ocorridos durante a minha vida. Na semana seguinte, entre os dia 1 e 2, as referidas colegas me fizeram várias provocações novamente em sala de aula. Elas tiraram as carteiras vazias, colocaram ao meu lado e ficaram de deboche. Além disso, brigaram com a sala inteira, acusando os colegas de várias coisas. No dia 3, um sábado letivo, tivemos atividades no Centro de Machado. Naquela ocasião, fui perseguida pelas colegas racistas e pelo namorado de uma delas. Várias pessoas testemunharam a coação e chegaram a me alertar sobre o que estava acontecendo. Eu entrava em uma loja, eles entravam também. Na outra semana, uma das colegas foi suspensa por três dias. Daí, nos dias 8 e 9, recebi umas ameaças falando que eu não deveria ter aberto a boca e contado tudo para a Coordenação, pois não teria os professores a todo momento para me defender e que era para eu abrir o olho. Diante disso, enviei um e-mail para a escola e relatei tudo que estava acontecendo. Nisso, a Coordenação entrou em contato comigo e se prontificou a me levar à Polícia Militar para relatar tudo que estava acontecendo. Depois disso, o irmão da agressora começou a enviar várias mensagens pra mim via rede social, perguntando como deixei as coisas chegarem naquele nível e que ele queria ouvir diretamente a história de mim, pois prezava pela segurança da irmã. Por fim, ele afirmou que eu deveria dar uma explicação para ele do que aconteceu, momento em que encerrei a conversa e o bloqueei. Depois disso, as coisas foram tomando grandes proporções e culminaram nessa manifestação no campus para que medidas mais enérgicas fossem tomadas contra a agressora”.

Cruz suástica desenhada no quadro da sala de aula do IFSuldeMinas – Campus Machado

De acordo com relatos de outras pessoas obtidos pela reportagem da Gazeta, além das injúrias raciais, a suposta agressora, também tem o costume de prestar continência ao regime nazista, fazendo elogios ao símbolo da suástica. “Em determinada oportunidade, aquela garota desenhou o referido símbolo no quadro da sala de aula e ficou lá venerando aquele negócio. Ali percebemos que as coisas estavam erradas e poderiam ter consequências mais graves posteriormente, o que, de fato, aconteceu”, disse um aluno que presenciou o ocorrido e preferiu não se identificar.

Depois de ser suspensa das aulas por três dias e perceber que o caso tinha tomado uma proporção muito grande, uma das acusadas utilizou as redes sociais para apresentar sua versão dos fatos e se defender. “Oi, gente! Vim falar um pouco sobre o que está acontecendo. Não estão escutando as duas partes para analisar como tudo se deu. Todos só ouviram uma parte, e a história foi completamente aumentada. Não foi isso que aconteceu. A verdade é que houve uma brincadeira entre eu e ela, na qual tivemos piadas da minha parte e da dela. Sou da raça indígena, e ela me chamou de indígena, falando que eu como jacaré no café da cama. Isso ofende sim os indígenas, praticamente colocando estereótipos neles. É a raça o meu pai e da minha família. Se eu levar por esse lado, também vai ser ofensivo. Peço que vocês olhem antes de publicar qualquer coisa. Eu já tinha pedido desculpas a ela, que também tinha pedido desculpas pra mim, pois nós duas reconhecemos que erramos. Aceitei a suspensão de cabeça erguida, porque sabia que estava errada. Mas, na história em que duas pessoas estavam brincando, somente eu estou sendo punida, levando ‘pedradas’ todos os dias na escola. Tenho certeza que isso não esta só me afetando, mas também a ela, à minha família, aos diretores e aos professores, que estão perdendo os dias de aula para resolver esse problema que está sendo inflamado cada vez mais. Então, o que peço para vocês é que analisem os fatos, pois também sofri uma discriminação racial”.

Perante todo o imbróglio, a reportagem da Gazeta procurou a Reitoria do IF para saber o posicionamento da entidade em relação ao caso. Em nota, a instituição assegurou que todas as medidas pertinentes ao fato estão sendo tomadas e que ações conscientizadoras serão colocadas em prática para conduzir os alunos à formação de posicionamentos igualitários e anti- racistas. Confira:

“Inicialmente o IFSuldeMinas – Campus Machado lamenta o ocorrido e ressalta seu repúdio a qualquer manifestação discriminatória. Informa que foram realizados todos os processos internos necessários à correta apuração do ocorrido nas diversas instâncias envolvidas (Procuradoria Federal junto ao IFSuldeMinas, Coordenação Geral de Assistência ao Educando e Diretoria de Ensino do Campus Machado).

Entre as ações empreendidas, destaca-se a designação e início dos trabalhos de uma Comissão Disciplinar Discente, a qual tem como competência analisar, com total imparcialidade e independência, os fatos ocorridos. Após regular tramitação do referido processo disciplinar, todas as medidas serão tomadas de acordo com os parâmetros legais em tempo oportuno.

Por fim, o IFSuldeMinas – Campus Machado ressalta também que várias ações pedagógicas sobre a temática estão sendo promovidas, estando, entre elas, a realização no dia 22 (quinta-feira), no auditório do Campus Machado, de uma mesa redonda e painel sobre discriminação e preconceito no ambiente escolar”.

Diversos boletins de ocorrência foram registrados pela Polícia Militar e serão investigados pela Polícia Civil para que medidas cabíveis sejam tomadas.

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